Dois fatos se repetem na história recente(últimos 3000 anos) da humanidade: o surgimento de falsos profetas, e a dificuldade de aceitar os verdadeiros profetas. Conta uma lenda hindu que o deus Shiva, ausentou-se de sua casa por muitos anos para meditar. Ao retornar à sua casa e sua à sua tão amada Parvati, deparou-se com um jovem forte e muito belo, tomando conta da porta da casa. Impedido de entrar na casa, Shiva foi tomado por um rompante de ciumes, raiva e arrogância, e, descontrolado, cortou a cabeça do jovem rapaz, que depois tornou-se o Lord Ganesha.
Não vou concluir esta estória, para ater-me aos fatos relacionados à reflexão que desejo propôr: consegue perceber nesta lenda mitológica, a representação da força da mente na vida humana? Um deus, mesmo depois de passar anos retirado em meditação, é tomado por sentimentos humanos e não consegue controlá-los. Essa é a parte importante desta lenda.
E o que essa lenda tem a ver com a reflexão sobre gurus? Tudo.
Quero te mostrar que não existem professor, guru, mestre, ou líder espiritual perfeito.
Na verdade, nada além da força vital que organiza toda a criação, está se quer perto da perfeição neste plano físico.
Então, fica evidente que é impossível existir um líder espiritual, ou guru perfeito. Mas você pode sim encontrar aquele com quem ‘seu santo bate’, e ele vai parecer sim, perfeito.
Ele parece perfeito, por que fala exatamente o que você deseja ouvir, no tom do voz que você deseja ouvir, e ele parece concordar com você nos mais polêmicos assuntos, e vocês pensam sobre a vida da mesma maneira. As atitudes dele não estão muito coerentes com a fala dele, mas você gosta dele mesmo assim, e segue-o mesmo assim, afinal de contas ninguém é perfeito, não é?
Se é assim que você procura um guru, você na verdade está buscando um seguidor, ou alguém que não discorde muito de você, e isso faz de você um falso discípulo.
A existência de falsos discípulos é que faz surgir como realidade o falso guru.
Um professor, um mestre, um guru ou um líder espiritual, nasceram da mesma maneira que nós: foram gerados no ventre materno e já recebendo influência do ambiente à sua volta; foram criados e educados sob determinado tipo de cultura, de hábitos, de crenças; estabeleceram diferentes níveis de relações interpessoais ao longo da vida; e o que eles são agora, é o resultado da somatória de todos estes fatores, exatamente como ocorre conosco, o que os submete também à mente humana.
São pessoas como nós, que aprenderam melhor do que nós os ensinamentos da vida, e podem nos ensinar com suas experiências. Talvez eles tenham sido escolhidos sim por esta força vital que tudo mantem, para serem esses mestres ou gurus, mas isso não faz diferença, por que eles não nascem e pronto: começam a ensinar. Eles vivem a vida, aprendem um idioma, desenvolvem sua personalidade, sentem fome, sede, sono, medo e raiva. Estudam. E não faz diferença se eles foram escolhidos ou se eles se escolheram. Eles vão falar aos seus discípulos no idioma que aprenderam na infância, com as vestes que seu povo usa, e sobre os temas que estudaram.
A diferença está em quem ouve.
Você ouve o que o mestre deseja lhe ensinar, ou ouve apenas o que você deseja ‘aprender’?
A única qualidade que pode determinar um verdadeiro mestre é “falar a verdade e agir na verdade, sempre”.
A única qualidade que pode determinar um verdadeiro discípulo é “ouvir toda a verdade, doa a quem doer”.
E todo verdadeiro discípulo é um verdadeiro mestre, sempre.
E todo verdadeiro mestre é um verdadeiro discípulo, sempre.
Aprenda a ouvir primeiro, tornando-se habilitado à aprender a verdade em seguida.
Desejo à todos uma semana de profundos aprendizados.
Namastê!!