Dia desses ao sair de casa, deparei-me com uma senhorinha, bem velhinha mesmo, parada na calçada, esperando meu carro sair da garagem.
Seus cabelos na altura dos ombros traziam a imponência de uma Cleópatra, mas a cor amareladas das mexas que seriam brancas, se bem cuidadas, denunciavam uma simplicidade plebeia.
Rugas marcantes na face e mãos mais pareciam a confissão da idade avançada, mas sua postura firme e ereta evidenciavam vitalidade e força.
O rosto marcado carregava um sorriso muito amoroso e as mãos uma sacola de recicláveis que ela recolhe nas ruas. E ela ainda puxou conversa quando dissemos bom dia.
Falou do carro, lembrou de quando era jovem, e vivia num sítio com seu pai, e ainda de seu trabalho numa rádio, aos 17 anos, e comentou:”Nossa…quanto tempo faz isso!”
E sorrindo, sempre.
Eu e meu filho ficamos impressionados com a disposição daquela senhora que revelou seus 83 anos de forma tão simpática.
E ainda disse ao se despedir:”Deus te abençoe!”
Senti essas palavras vindo do seu coração verdadeiramente.
Era um retrato de uma pessoa feliz.
Simples, e feliz, e saudável e forte, porque eu daria uns 70 anos pra ela.
Cheia de marcas da vida, que a deixavam ainda mais bonita e simpática.
Era possível à um desconhecido, fantasiar as mais intrigantes experiencias capazes de deixar marcas tão profundas.
E ela tinha as marcas que a vida deixou nela, como se em seu corpo se escrevesse cada palavra e cada linha de sua história.
Mas ela escolheu que marcas seriam registradas em sua alma.
Envelheceu como qualquer ser vivo, perdeu a beleza e entusiasmo da juventude, mas ganhou marcas de sabedoria.
As linhas escritas em seu corpo contavam uma história de sofrimento e luta constante.
Mas sua alma, seu sorriso, sua firmeza, sua alegria, sua saúde, sua desenvoltura e sua simplicidade, contavam a história de uma alma livre, que nunca assimilou o sofrimento.
E não me parecia doente, ou tratando as doenças modernas, as quais costumamos nos entregar e deixar que marquem nossas vidas.
Ela estava feliz.
E isso me fez perguntar a mim mesma que marcas quero em mim aos 83 anos?
Me dei conta de que tudo que eu fizer, falar, comer, pensar, e deixar de fazer, ou seja, todas as minhas escolhas de hoje, estarão marcadas em meu corpo até meu último dia, e em minha alma, para todo o sempre.
Equilíbrio, sabedoria e uma pitada de boa vontade podem ajudar a escolher como as marcas da vida ficarão impressas em nossas almas.
Desejo à todos uma semana de sábias escolhas!
NAMASTÊ!